Inocência Selvagem
CAPÍTULO 1
Estava um calor horrível e asfixiante no sótão. Embora fosse um dia de Julho bastante fresquinho, parecia que ali dentro se tinha acumulado todo o calor das últimas semanas. Por isso, Isobel ofegava um pouco ao organizar os baús e as caixas de cartão, que não tinham visto a luz do dia durante anos.
A culpa era dela, claro. Poderia ter-se negado a fazê-lo, embora devesse admitir que não tinha pensado que limpar a casa fosse uma tarefa tão árdua. Sentando-se no chão, observando a acumulação do que eram praticamente tralhas imprestáveis, tentou não ficar nervosa. Mas perguntou-se se poderia fazer aquela tarefa sozinha.
Claro que não havia mais ninguém que quisesse fazê-la. Nem por sombras Marion sujaria as mãos para ir ali. Além disso, como dizia sempre a Isobel, o dia não tinha horas suficientes para fazer tudo o que tinha que fazer. E Malcolm não ia agradecer-lhe o esforço, embora empregasse o escasso tempo de que dispunha a organizar o lixo da sua falecida mãe. Já eram suficientes as vezes que ela e o marido da sua irmã se viam.
Supunha-se que ela, professora na escola local, podia tirar um dia livre para se encarregar das consequências de uma desgraça familiar sem qualquer problema. Se tivesse que ser substituída, ou se se atrasasse, o problema era apenas seu. Marion tinha gente ao seu dispor, pessoal do qual de maneira alguma podia prescindir para arrumar as coisas da sua mãe.
Isobel supunha que assim era. Além de ter um marido e uma filha de oito anos, Emily, Marion tinha a sua
própria empresa, uma agência de emprego. Estava sempre ocupada a entrevistar pessoas ou a ir a reuniões ”importantes”. Isobel perguntava-se às vezes por que se tinha incomodado a casar-se.
Isobel não estava casada, e isso, ela sabia, encantava Marion. Sabia pouco da vida privada da sua irmã, claro, mas o facto de ela não ter um namorado formal agradava-lhe sobremaneira. A sua melhor amiga, Michelle Chambers, dizia que era porque Marion a invejava. Mas por que Marion haveria de ter inveja da sua irmã adoptiva, era uma coisa que Isobel não entendia.
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